segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dia 5- Padrón / Santiago de Compostela ( 21km´s)

Ai está o dia mais aguardado, a ultima etapa antes de Santiago. Acordamos cedo, a adrenalina e a ansiedade era mais que muita. Depois de saco preparado e uma sandocha com um sumo começa a caminhada. Está a começar a clarear o dia, céu mais uma vez azul, com muito orvalho o que requeria mais cuidado ao caminhar sob pena de molharmos os pés e para o ultimo dia não valia pena correr riscos desnecessários. O sorriso  e a alegria do garoto de que estava prestes a conseguir realizar um feito único para a idade dele eram bem evidentes, assim como a tenacidade e perseverança da mãe dele, que mesmo com o joelho numa lástima nunca desistiu tornando-se numa força inspiradora para nós. Saímos de Padrón em direcção a Colegiade de Santa Maria de Iria Flavia, antiga sede episcopal antes de ser transferido para Santiago, tendo como curiosidade o facto de se associar este local a um dos maiores expoentes das letras galegas- o Nobel Camilo José Cela que nasceu aqui junto a basílica.  Passado esta zona vem um troço pela terrível N550, com camiões com o barulho e o asfalto nos pés a fazerem estragos, é o pior que temos que atravessar no caminho todo, os troços do caminho que a autoestrada cortou, é penoso e difícil  o garoto nesta fase foi-se um pouco abaixo, mas eu como no meu bastão de apoio levava uma bandeira do Benfica e Portugal causava impacto nos camionistas portugueses que passavam com estes a buzinar, o que o garoto achava divertido e ia sempre perguntando coisas sobre o clube, sendo que ele era um adepto fanático do Bétis de Sevilha. Saindo da N550 entramos num aglomerado de aldeias, com as pessoas a saudarem-nos e a darem incentivo e força dizendo que estávamos quase a chegar ao destino, para depois entramos em Faramello e é aqui que deixamos a maldita N550 pela ultima vez. É a partir daqui que por entre uma linha do caminho de ferro vamos seguindo caminho e onde já pressentimos que um grande centro urbano está próximo  pela descaracterização da zona de periferia e diluição dos subúrbios. A nossa alegria era imensa porque chagamos ao ultimo arrabalde urbano antes de Santiago, o lugar de Milladoiro, sendo que aqui a emoção subiu imenso, pois já avistamos as torres da Catedral de Santiago. Falta muito pouco para a chagada mas nem por isso deixou de ser fácil, a entrada na cidade de Santiago de Compostela pelo caminho Português não é fácil, tem uma ultima  subida, a famosa subida de Choupana que nos deixa de rastos, sendo que no cimo da subida chegamos a um parque onde estivemos ali uns bons minutos a descansar e a repor as forças, com um sumo rico em açúcar e vitamina C para repor as energias.  Depois das energias repostas seguimos em direcção a Alameda da Ferradura, onde fica a a famosa porta Faxeira, entrada tradicional do Caminho Português de Santiago, quando passamos esta porta começam as lágrimas a correr porque depois de todo o sacrifício e aventura desta semana a simbologia de passar esta porta faz-nos sentir como que sentido de dever cumprido. É depressa que passamos pelo emaranhado de ruelas que compõem a parte medieval e chegamos a Rua de Franco que no leva directamente à famosa praça do Obradoiro e a Catedral.
Chegados aqui a emoção tomou conta de nós, olhamos uns para os outros e a primeira reacção foi de nos abraçarmos e agradecermos a Deus e ao Apóstolo por tudo ter corrido bem. Deito-me no meio da praça a contemplar o esplendor da visão que é olhar para esta catedral, uma coisa assombrosa, sentimo-nos pequeninos e insignificante perante a dimensão do edifício e de toda a simbologia que esta carrega. Passado o "choque" da chegada partimos em busca de um lugar para pernoitar visto que os albergues de Santiago ficam desviados do centro, depois de alguma procura encontramos 2 quartos duplos que partilhamos. Depois de acomodados e de um bom banho, partimos para a Catedral.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dia 4- Caldas de Reis / Padrón (17km´s)

Depois de todas as peripécias que tive durante a noite, finalmente chegou a hora de me despedir das irmãs, carimbar a credencial e ir de encontro aos meus companheiros que esses sim tiveram uma noite tranquila ao contrário de mim. Como a etapa de hoje não é especialmente grande já passavam das 7h da manhã quando saímos para mais uma jornada. Mas cedo vimos que apesar de curta ia ser bastante morosa, porque o garoto estava com os pés numa lastima e a mãe com o joelho bastante inchado e com dores. A nossa sorte é que o caminho é essencialmente por terra batida, pelo meio de natureza luxuriante que nos leva a esquecer as dificuldades que estávamos a atravessar a nível físico, devido as várias mazelas que já se acumulavam no corpo.  As minhas mazelas eram essencialmente nos ombros e costas, devido ao excesso de peso que trazia na mochila agravado pelo carregamento da mochila do garoto no dia anterior. Ao fim dos primeiros 5km´s já tinha os ombros completamente doridos, mas a fé, a coragem e a força de chegar ao destino era tanta que a dor passava para um plano secundário. É incrível a paisagem nesta etapa, por momentos deparamo-nos com cenários dignos de filme, ai absorvemos o mais que podemos nas pausas que fazemos para nos inspirar-mos para os km´s que faltam.
Deixaremos esta paisagem quando chegamos a S. Miguel de Valga, onde começa uma lenta e penosa descida em direcção a Pontecesures para passarmos o rio Ulla. Este rio tem a particularidade de rezar a lenda de que foi por aqui que subiu a barca com o corpo de S. Tiago, atracando em Padrón. Poucos kilometros depois de passarmos Pontecesures estamos ás portas de Padrón onde termina a jornada. Chegamos um pouco cansados mas felizes. Fomos para o albergue para depois visitar a Igreja de S. Tiago onde encontramos o padrão onde foi amarrada a barca do Apostolo e que deu nome a esta cidade. Depois foi jantar e descansar que amanhã temos a ultima jornada pela frente.


Padrão onde foi amarrada a barca do Apostol
 (imagem retirada de : blogcomcebola.zip.net)


Albergue de Padrón (imagem retirada de: jjalonso.blogspot.com)







segunda-feira, 18 de março de 2013

Dia 3- Pontevedra/ Caldas de Reis (23km´s)

Hoje espera-nos uma etapa um pouco longa, por isso há que levantar bem cedo para nos fazer ao caminho. Preparar tudo bem rápido, e começar a jornada porque ainda para mais o calor ameaça ser bastante em mais um dia de Setembro. O garoto começava a dar os primeiros sinais de fadiga, enquanto a mãe se revelava uma autêntica heroína, joelho sempre bastante inchado mas ela sempre seguia com ele ligado de uma forma firme e tenaz de modo a não deixar o filho preocupado, mas a nós bem nos dizia que lhe estava a custar muito.  Depois  passamos pela famosa igreja da Virxem Peregrina, que é uma das referências do Caminho Português, para logo de seguida atravessarmos a  parte antiga da cidade até milenar ponte de O Burgo. Saindo da cidade entramos num longo carreiro de pelo meio de campos, onde a paisagem bucólica nos faz fazer uma introspecção acerca dos novos propósitos para fazer o caminho. É aqui que conheço uma pessoa que me marcou bastante nesta jornada. Encontro em sentido contrário ao nosso, de Caldas de Reis para Pontevedra um senhor de aspecto franzino, com a pelo queimada pelo sol, músculos dilatados pela violência dos km´s, com uma pequena mochila e uma garrafa de agua. Era um peregrino português, residente no Entroncamento e que tinha feito a jornada épica de ir a pé do Entroncamento até Lion (França), de lá fez o Caminho Francês e chegado a Santiago de Compostela, estava a fazer o Caminho Português em direcção ao Porto. Este senhor estava a 90 dias a caminhar, sendo que quando me ouviu a falar português começou a chorar compulsivamente de alegria porque dizia que à muitos dias que não ouvia falar português.  Trocamos breves palavras para depois seguimos a nossa jornada, sendo que aquela cara, aquele corpo franzino e a tenacidade vincada naquele rosto nunca mais me saiu da memoria ao longo do resto da jornada.     Esta parte do caminho apesar de todo o aspecto bucólico e aparentemente sem dificuldade, mas que no entanto estamos numa zona com muita água, de onde se não tivermos um bocadinho de cuidado facilmente molhamos os pés o que é um caos, pois ficamos com eles limados e aparecem as famosas bolhas. E foi aqui precisamente que o garoto os molhou e cai no erro de não nos dizer nada andando vários km´s com eles assim, provocando-lhe várias bolhas, eu estranhei ele começar a ficar com a passada mais lenta, mas sempre pensei que seria da fadiga. Chegados a aldeia de San Mauro fizemos uma pausa junto a uma fonte belíssima que ali se encontra, para abastecermos os cantis de água e temperar as forças, foi ai que vimos o estado lastimoso em que o garoto tinha os pés. Ligamos-lhe os pés, meias secas e começa a caminhada, com um senão, aqui o Daniel,  agora em vez de uma mochila carrega duas a minha e a do garoto. Eram "só" uns 15 kg que levei as costas durante os últimos 7/8 km´s, uma violência e um sacrifício em que só vi as consequências mais tarde. O sacrifício foi que ao fim de alguns minutos aqueles 15 kg pareciam ser o dobro, as minhas costas era tudo dor, os ombros estavam a ficar negros e para ajudar à festa, o caminho atravessa várias vezes a famosa autoestrada N550 que liga Portugal á Galiza, uma tortura para os pés, andar sobre asfalto com aquele peso em cima dos ombros, mas com muita persistência, oração e companheirismo lá se foi suportando. Estamos a entrada da cidade, sendo que seguimos directamente para a famosa ponte do Umia, um dos locais de eleição desta cidade termal. Paramos numa esplanada mesmo ao lado da ponte e lanchamos /jantamos ali mesmo sendo que a pior noticia do dia estava para vir, o albergue da cidade estava em obras, não podíamos ficar lá hospedados. Os outros três peregrinos foram para uma residencial, eu por uma questão de poupança de euros fui ao pavilhão gimnodesportivo e pedi para ai ficar a dormir naquela noite, pedido imediatamente aceite, com total disponibilidade para usar os balneários para tomar um banho e um colchão para me deitar. Cai a noite e eu no final dos treinos de andebol do clube local fico sozinho naquele pavilhão enorme, onde qualquer barulho por mais minúsculo que fosse, pareciam tiros. Comecei a ficar com medo e sem conseguir descansar, o meu corpo estava agora rígido com os os nervos de estar ali sozinho. Decido arrumar as minhas coisas e sair dali o mais rápido que pudesse e procurar um banco de jardim no centro da cidade para esticar o corpo, pois não estava às escuras e sempre podia ver o que estava à minha volta. Quando ia em direcção ao jardim encontro um mosteiro de freiras, é então que decido me enrolar no saco cama e deitar-me ali a porta do convento com a sensação de que ali estava seguro. Não será preciso dizer que praticamente não consegui cerrar olhos, apenas descansou um pouco o corpo da violência do dia, e se havia dia em que precisava de um bom descanso era este mas mais uma prova de superação. Ora por volta das 5:30/6 h da manhã começa o movimento no convento, com algumas das irmãs a entrarem neste, sendo que uma delas de assustou indo chamar as outras irmãs dizendo que estava um sem abrigo ali a porta deitado, foi então que eu disse que era um peregrino, contando-lhe o episódio do pavilhão,  então elas disseram para eu entrar dando-me bolachas e chá para me dar forças para  nova jornada que ai vinha, ás irmãs o meu obrigado.


Fonte das Burgas (imagem retirada de : http://aventura- caminhos-santiago.iblogger.org)

Caminho a entrada de Caldas de Reis (imagem retirada de : http://aventura- caminhos-santiago.iblogger.org)
















sexta-feira, 15 de março de 2013

Dia 2- Redondela / Pontevedra (18km´s)

Ponte Medieval sobre o Rio Verdugo
São 6h da manhã e já fervilha de movimento o albergue de Redondela, começam os preparativos para mais uma jornada de peregrinação. Temos de hidratar bem a pele, principalmente pés e ombros para que o caminho se faça sem sobressaltos de maior, aqui a mãe do garoto teve cuidados redobrados porque teve que ir com o joelho ligado, na noite anterior tinha estado a colocar gelo de modo a que as dores e o inchaço diminuísse, ainda lhe dissemos para ela desistir de fazer o caminho mas ela esta com uma força tenaz e uma fé de que iria conseguir. A nós coube-nos dar animo e força e mostrarmos disponibilidade para a ajudar. Saímos um pouco mais tarde porque a jornada hoje não era muito extensa. Depois de algumas subidas com um grau de dificuldade médio, e umas vistas maravilhosas sobre a Ria de Vigo, entre as localidades de Arcade e Pontesampayo  encontramos a foz do rio Verdugo e para o ultrapassarmos temos que atravessar uma enorme ponte medieval que tem a curiosidade de aqui ter ocorrido uma das mais sangrentas batalhas aquando das invasões francesas feitas por Napoleão em 1809, quando este de dirigia em direcção a Portugal. Passada esta ponte, atravessamos as localidades e por entre calçadas e ruelas vemo-nos subitamente numa área de montanha que rapidamente é ultrapassada para seguirmos pelo meio de vinhedos e pomares, já não muito longe de Pontevedra, de onde o aroma e o frenesim das abelhas em volta do açúcar das  uvas maduras faziam ainda mais crescer a água na boca pelo lanche que nos esperava. Começa o aglomerado de casas a avolumar-se sinal que Pontevedra estava mesmo ai ao "virar da esquina", e junto a estação dos caminhos de ferro da cidade, encontramos o albergue, um edifício novo feito de propósito para os peregrinos de Santiago. Chegados a Pontevedra foi tempo de nos acomodarmos e ir visitar o centro histórico de Pontevedra de onde sobressai a Basílica de Santa Maria a Grande e a praça envolvente. Quero salientar a simpatia, o carinho, a boa vontade de toda a gente que encontramos pelo caminho, onde desde água, fruta, pão nos é oferecido e onde o máximo respeito e  ternura é demonstrado para connosco.

Basílica de Santa Maria a Grande em Pontevedra (imagem retirada de www.commons.wikimedia.org)


Ria de vigo ou Rias Baixas (imagem retirada de www.fotopaises.com)


quinta-feira, 14 de março de 2013

Dia 1- De Tui a Redondela (29km´s)

São 6h da manhã, toca a acordar para me preparar para começar a jornada, juntamente comigo apenas os três peregrinos que tinha encontrado no dia anterior se encontravam no albergue. Tínhamos combinado fazer o caminho juntos, por isso vou fazer aqui uma referência a essas três pessoas que me marcaram profundamente. Esses peregrinos eram duas senhoras na casa dos 40 anos, de um porte atlético que impunha respeito, uma de cabelos loiros e pele clara, parecendo mais uma mulher dos países nórdicos que espanhola da zona da Andaluzia, sendo que a amiga era o oposto, típica mulher espanhola, com pele morena e magnificamente bem tratada, cabelo muito curto, "à rapaz" como dizem os velhotes da minha aldeia  e um rosto de onde sobressaem os olhos negros. A acompanha-las um pré adolescente de 13 anos, filho da senhora loira, cheio de motivação para fazer o caminho. Eram peregrinos de Sevilha, sendo que mãe e filho eram estreantes tal como eu, enquanto a senhora morena já era veterana nestas coisas de Caminhos de Santiago, já tinha feito o Caminho Português e o Caminho Francês, estando por isso bem preparadas e apetrechadas para fazer o caminho. Eram 6:30 da manhã quando saímos do albergue, estava uma manhã de nevoeiro, mas temperatura agradável, com muito orvalho  e ainda bem porque assim ficava mais fácil caminhar. Os primeiros 5 km´s foram terríveis por causa da sinalização, porque havia muitas obras e tivemos bastantes dificuldades em encontrar algumas das setas indicativas do caminho, mas recompensador por outro lado porque aqui encontra-se uma das zonas mais bonitas desta etapa- o Vale do Louro, um espaço bucólico onde apesar do rio bastante poluído das industrias de Porriño, a paisagem faz-nos esquecer este pequeno pormenor. Um detalhe, é obrigatório fazer um descanso a entrada da ponte das Febres onde morreu com a peste negra há 750 anos o Bispo de Tui San Telmo, no regresso de uma peregrinação a Santiago.  A meio da manhã fizemos uma pausa de 20 minutos para tomar o pequeno-almoço. Combinamos fazer pausas de 5 minutos a cada 5 km´s de modo a não ser muito violento para o garoto, visto que era um estreante e tratava-se de um garoto. O primeiro teste surgiu quando chegamos a zona industrial de Porriño, em que tivemos que atravessar o Polígono Industrial, meia dúzia de km´s terríveis, sobre um sol abrasador, asfalto e poluição. Depois deste teste, seguimos em direcção a Chan das Pipas, aqui fizemos uma paragem para respirar e contemplar a maravilhosa vista sobre a Ria de Vigo, um espetaculo deveras saboroso para nos dar alma para o que restava do caminho. No entanto este animo seria de pouca dura,  um imprevisto aconteceu, numa descida muito íngreme, já a pouco menos de 5 km´s da chegada a Redondela, a mãe do garoto faz uma entorse num dos joelhos, ficando este imediatamente super inchado ficando com mobilidade bastante reduzida, acabando os últimos km´s com muita dificuldade e sofrimento. Chegamos ao final da tarde a um albergue magnifico, a famosa Torre do Relógio no centro da cidade, exaustos mas felizes por termos conseguido terminar esta primeira etapa.


(imagem tirada do blog: http://canevare.blogspot.com) *


(imagem tirada do blog: http://cronicasdeumvagamundo.blogspot.com)*




 * nota: todas as imagens são tiradas de sites e blogs porque na altura não possuía maquina fotográfica, recorrendo por isso a imagens das várias etapas do caminho para ilustrar estas mesmas etapas.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Partida

Depois de uma noite muito mal dormida, acordo as 6 da manhã e coloco as ultimas coisas na mochila, tomo o pequeno almoço, despeço-me da minha mãe e sigo em direcção há paragem do autocarro. Depois de uma viagem de autocarro em direcção a Braga que foi um calvário porque pareciam as antigas viagens de comboio porque paravam em todas as estações e apeadeiros. Depois de quase 3 horas de autocarro, foi seguir em direcção a estação dos caminhos de ferro da cidade para ver os horários para a cidade de Valença. Como ainda tinha algum tempo livre, aproveitei para andar um pouco pelo centro da cidade. Entro  no comboio e começa uma viagem linda que aconselho toda a gente a fazer, é uma delicia estar ali sentado no comboio e irmos ali deleitados a apreciar a paisagem, visto que é quase sempre junto há costa. Chego a Valença e dirijo-me ao porto de turismo para tentar obter a Credencial do Peregrino, para me permitir pernoitar no albergue de Tui, mais um contratempo pois não tinham credenciais, disseram para procurar na cidade espanhola no porto de turismo. Depois de uma curta visita ao centro histórico de Valença começo a caminhada em direcção a Tui. Respiro fundo e olho para ponte internacional que liga Portugal a Espanha, juro que me meteu um pouco de impressão, porque detesto alturas e aquela ponte impressiona. Com a cidade de Tui no horizonte, sigo a caminhada, chego a entrada da cidade e fico impressionado com o centro histórico mais concretamente com a Catedral de Tui. Antes de contemplar a catedral e os seus famosos claustros dirijo-me ao posto de turismo, com o mesmo propósito da minha visita ao posto de Valença, sendo que a resposta foi a mesma, que não tinham a credencial, mas que na Catedral de Tui o podia obter. Faço imediatamente o trajecto em direcção a Catedral para falar com o capelão. Um senhor muito afável, de idade  avançada, perguntei se podia obter a credencial, obtendo resposta positiva. Fomos para a Sacristia onde o sr. capelão preenche a credencial com os meus dados e depois disse que tinha um custo de ...20 cêntimos. Fiquei estupefacto com o valor, um valor simbólico por um documento tão importante. Depois de uma breve oração na catedral, e da bênção do capelão, sigo para o albergue de modo a me acomodar e deixar a mochila para poder visitar a cidade comodamente. Chegado ao albergue este encontrava-se fechado, estando 3 peregrinos sentados na escadaria em frente à porta (três pessoas importantíssimas na minha peregrinação!) e perguntam se eu sou peregrino e se ia fazer o Caminho Português, anui que sim e travamos ai uma breve conversa. Depois de comodamente instalado sigo em direcção da catedral e dos claustros majestosos, com uma vista sobre o rio Minho e a cidade de Valença sigo a visita pelo centro histórico da cidade com a praça central repleta de gente no descanso depois de mais um dia de trabalho. Sento-me numa esplanada a desfrutar de um  café (horrível! o café em Espanha é muito mau!!) para pensar no que iria começar na manhã seguinte e a preparar-me mentalmente. Café tomado, vou a uma cabine telefónica para telefonar para casa para dizer que estava bem e que tinha corrido bem a viagem, depois de me despedir da minha mãe entre soluços e lágrimas nos olhos, vou para o albergue esperar pela hora do jantar. O jantar é num restaurante típico com os três peregrinos que estavam no albergue, e por entre saladas e ameijoas das Rias Baixas combinamos começar a peregrinação todos juntos, de modo a podermos nos apoiar nos muitos km´s que tínhamos pela frente. Depois do repasto, fomos descansar para o albergue. Amanhã começava a verdadeiramente a aventura.

Catedral de Tui

(sinalização oficial dos caminhos com o numero de km´s que faltavam para  Santiago )

Ponte Internacional de Valença

terça-feira, 12 de março de 2013

Planeamento da Viagem

Depois do choque de ter entrado para a universidade comecei a pensar na maneira como iria fazer essa viagem. Era uma aventura que iria fazer completamente ás escuras, sozinho, num país estrangeiro. Mesmo sabendo que os Caminhos eram Património Mundial, e que milhares de pessoas fazem os caminhos todos os anos, era um risco. Comecei a planear a viagem à minha maneira, visto que internet na altura para pesquisar ainda era uma ilusão para mim. Surgiram vários problemas no planeamento da peregrinação, que tive que arranjar maneira de os ultrapassar. Primeiro dos problemas e que mais me custou, dizer a minha mãe que iria para Espanha a pé, sozinho durante uma semana! Segundo foi arranjar a Credencial do Peregrino que me permitia pernoitar nos albergues de peregrino. Depois do choque, a minha mãe só dizia que eu era louco, que ninguém fazia isso, que ia ser roubado, passar fome, etc, eu disse-lhe que era um promessa e que tinha que a cumprir. Durante o planeamento da viagem surgiu uma boa noticia, a viagem anual dos velhotes do concelho era a Santiago de Compostela, então programei toda a viagem de modo a que o meu regresso fosse com eles, de modo a poupar algum dinheiro. Mochila composta por algumas t-shirts, meias, roupa interior, estojo de higiene pessoal, carteira com os documentos e um dos meus erros(mas na altura como ainda não sabia se ia conseguir obter a credencial, cai no erro de levar a tenda de campismo, eram Só mais dois kilos de peso na mochila!). Estávamos a meio do mês de Setembro, decido então começar esta jornada de peregrinação.


( imagem tirada do blogue: http://the-day-is-today.blogs.sapo.pt/6414.html)